Talvez pelo fato de o tema estar em destaque esses dias, lembrei-me de um mal-estar que passei quando tinha meus 10 anos de idade.
Hoje já seria caracterizado por importunação sexual, ou algo do tipo.
Estava numa pizzaria em São Vicente com minha família: pais, avô e irmã. Comíamos uma pizza, que era um prato que eu amava...e de repente percebo que em uma mesa próxima, um par de olhos masculinos me espreitava. Olhava fixo para mim, e ao perceber que insistia, baixei os olhos e tentei levar à boca mais um pedaço da pizza. A coisa não desceu bem. Ao levantar os olhos eis que o homem além de olhar, sorria. Fiquei constrangida, pois além de tímida tinha medo que meu pai percebesse. Ia dar barraco, pois ele era nervoso e tinha pavio curto.
Contei isso porque o fato de não me sair da memória é sinal de que foi um acontecimento marcante. Para quem já tinha medo do pai desde que nasceu, o fato de ver um outro homem numa atitude que me fazia encolher de medo, deixou tudo numa dimensão confusa e apavorante. Nunca contei isso pra ninguém, estranho. Agora entendo porque muitas mulheres deixam de relatar um abuso sexual logo após o incidente. Há algo na natureza de uma mulher que é frágil demais. Existe um medo de que a culpa seja nossa, mesmo aos 10 anos. Eu era bonitinha mas nunca havia passado por situação semelhante.
Esse homem que me violentou com o olhar asqueroso devia ter na época uns 30 anos mas conseguiu estragar meu jantar. A pizza que eu tanto adoraria ter comido ficou quase toda no prato.
O mais instigante é constatar agora que ninguém da minha família percebeu. Viram como é complicado???