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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

castelo de areia








Dizem que a sabedoria é viver o presente. Há dizeres como : "Isto também passará", "Viva o aqui e agora". Tudo bem, até respeito quem dá esses conselhos. Acredito que seja uma pessoa privilegiada, quem nunca ficou deprimido. Mas também acredito que uma certa falta de expectativa e a lucidez de quem chegou à minha idade e percebe que a vida está chegando ao fim e já não estimula a muitos feitos e pequenas aventuras, deixa muito pouco para quem já foi entusiasmada e cheia de energia, curiosa e ousada em se atirar a muitos interesses e hoje percebe que tudo "faz parte" de um momento psicológico, como se fosse uma droga fornecida pelo divino para suportarmos chegar onde chegamos e aí sim, perceber que tudo é uma ilusão, mas uma ilusão necessária para a sobrevivência do ser humano.

Toda essa constatação não me impede de perguntar por que para cá viemos e para onde vamos. Só desconfio que vamos continuar em algum outro plano de vida. Ou seria desperdício de energia daquele que criou tanta coisa para destruir tudo de repente, como se fosse uma onda traiçoeira destruindo um castelo de areia feito por uma criança inocente na beira do mar...


I

domingo, 16 de agosto de 2020

consequências do confinamento ...página 1


 


Larguei a máscara que tinha acabado de costurar à mão (não gosto de costura) e corri ao computador. Já avisei numa postagem anterior que escrevo para eu mesma. Não pretendo que ninguém tenha paciência de ler ou consiga entender meus textos. 

Vamos lá.... para a solidão não há remédio. Não me iludo com subterfúgios. Não alugo ninguém para suportar-me. Serão duas pessoas insatisfeitas. Eu e o outro. Resolvi tocar esse barco sozinha há 40 anos. Ninguém iria me aguentar. Nem eu a outro ser humano. 

A quem não acredita em outra vida, peço que se faça a pergunta: para onde vai a alma, o espírito de um ser como Fernando Pessoa, Kafka, ou Clarice Lispector? A quem acredita em Deus pergunto: seria Deus medíocre a ponto de criar seres tão intensos para que ao morrer façam....puft....e pronto?

Minha mãe costumava incentivar~me, quando tinha eu uns 18/20 anos, a seguir a carreira de aeromoça ou polícia feminina. Ela achava o máximo. Eu me assustava, pois não nasci para isso. Ao receber um dia em nossa casa a visita de um casal americano, para falar no rádio amador do meu pai, abriu-se a oportunidade para que eu me mudasse para o Alabama (USA) e trabalhasse na Union Carbide. Eu sabia Inglês muito bem e o Jimmy prometeu-me uma vaga de secretária bilingue.  Não tive coragem de deixar minha família. E dizer que eu era feliz em minha casa é mentira. Meu pai era um carrasco. Hoje fico perplexa ao pensar que para minha mãe seria natural me deixar ir....

Minhas tralhas...o que faço com elas, alguém me ajude, por favor. Tenho pavor de morrer e deixar tanta coisa de estimação para que meus filhos decidam que destino dar. Por outro lado, se jogar tudo fora e deixá-los livres dessa incumbência, será que vão gostar?  Será que devo conversar com eles a esse respeito e pedir-lhes que destruam tudo o que não lhes interessar? Sim, acho que essa conversa é necessária.

Estou abrindo sites dos meus escritores favoritos, que são os mais melancólicos. Consola-me muito mais compartilhar meus dramas com os que mergulharam fundo em suas almas, do que encher linguiça com leitura superficial. A vida não é para ser desperdiçada com quinquilharias.

sábado, 15 de agosto de 2020

MASCARADOS



Sábado, dia chuvoso, sem ânimo para quase nada, resolvi fazer máscara protetora do covid-19. 

Enquanto ia costurando a mão um arremedo de máscara, ia me lembrando de um ex-namorado muito espirituoso e já imaginando-o de máscara, comecei a rir de nós dois, e lembrei-me de fazer uma pergunta em pensamento a ele: lembra-se quando "mascarado" era usado como expressão para dizer de uma pessoa falsa, duas caras? A seguir vi a ambos dando boas gargalhadas. 

Então vai aqui uma reflexão: quando, em nossos tempos de namoro, poderíamos imaginar que um dia ambos seríamos também "mascarados" ? 

ALGUMAS VANTAGENS DE ENVELHECERMOS

Maxine | Maxine, Humor, Funny
(imagem da internet)


Duas das poucas coisas que a velhice pode nos trazer de bom: se dar o luxo de não ter mais expectativas sobre ninguém  e poder se libertar de praticamente todos os compromissos indesejáveis. Isso traz o que sempre almejei: uma relativa libertação dos grilhões que a vida nos impõe quando deles dependemos para a sobrevivência.

Aos poucos vamos aceitando que ser mortal é um privilégio. Viver cansa. O que nos ajuda a chegar a essa conclusão é acompanhar o processo de envelhecimento com bom humor. Nosso emurchecimento, desidratação, como uma flor que aos poucos vai perdendo o viço e de tão murcha já perde também sua identidade, já não sabemos bem o que somos. Nossa identidade vai se esmaecendo, como algo sem tanta relevância, como quando necessitávamos dela para sobreviver. Agora sua maior importância é sentida ao renovar o atestado de vida junto ao INSS