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sexta-feira, 27 de julho de 2018
o lado bom da velhice ou tudo é relativo....a efemeridade das coisas
Todas as fases têm seu lado bom, apesar das dificuldades e problemas. Chego a pensar que existe um equilíbrio divino no final das contas, pois cada fase de vida nos dá oportunidade de vivências bem diferentes uma da outra.
Na infância temos o encantamento sempre presente da descoberta do mundo, a nosso jeito, em que coisas pequenas tornam-se sagradas, encantadoras e misteriosas. Quando crianças brincamos e falamos sozinhos, pois existe um tal envolvimento no que estamos fazendo, que um montinho de terra e algumas florzinhas podem representar um bosque encantado. Os elementos naturais nos bastam e são escolhidos como nossos companheiros de brincadeiras prediletos. Há muita magia em tudo e esse nosso mundinho nos basta, desde que estejamos bem alimentados e recebamos um tantinho de carinho de quem cuida de nós.
Na adolescência, que considero a fase mais difícil de todas (posso assim dizer pois já ando na velhice avançada) há o perigo da aventura por um novo mundo. Estamos nos despedindo dos brinquedos da infância, que já não nos seduzem tanto, e nos arremessamos num turbilhão de emoções fortes demais para serem vividas por alguém que mal acabou de sair do mundo da fantasia. Sentimos que chegou a hora de aprender a arriscar alguns lances, a sociedade assim o solicita, mas temos a insegurança de parecermos ridículos. Já não aceitamos muitas regras dos pais e professores, no entanto ainda não temos força nas asas para voar alto. Arriscamos pequenos vôos de galinha e às vezes nos damos mal...mas a vida continua a nos desafiar. Há tanto o que fazer...tanto o que experimentar...então tudo começa a ficar colorido demais e acaba por nos seduzir. Começam a surgir os primeiros impulsos em direção ao outro e logo chega o que chamamos de amor. Aí é uma verdadeira montanha russa. Muita emoção rolando alto e baixo, muito riso e muito choro, muita alegria e muito sofrimento. Há nessa época um alto índice de suicídios ou atentados que não chegam a se concretizar.
Quando acaba a adolescência chega a fase em que, já com algum dinheirinho nosso, acreditamos que a melhor coisa do mundo é viver no nosso canto, ser independente, sair correndo da casa dos pais, (que a essa altura só nos sufocam). Fazemos malabarismos até conseguir um cantinho num quarto de pensão, numa kitinet e muitas vezes dividimos com um conhecido (nem precisa ser muito amigo)) um espaço onde vamos viver tudo novamente: alegrias, lutas, decepções, entusiasmo, cansaço, desafios, enfim, a coisa toda continua sob outro prisma.
A meia idade é a época em que começamos a perceber que muito esforço foi desperdiçado, muita energia foi gasta para pouco usufruto, (porque já não nos interessamos por 50% do que nos atraía até então) e tratamos de perceber que ninguém tem obrigação de satisfazer nossas expectativas. Vamos aprendendo com tombos feios, alguns quase nos aleijam, e daí tentamos recomeçar a nosso jeito ( a essa altura já antevemos razoavelmente a maneira de viver de que podemos dar conta).
Quem nasceu para viver junto de alguém se estabiliza com um parceiro e procura enfrentar a vida a dois, pois o medo de ficar sozinho é maior que a dificuldade de tolerar as idiossincrasias de outro ser humano. (pensa-se: ao menos tenho alguém para me ajudar a atravessar a ponte da vida). Mas há os que a essa altura não confiam em ninguém. Já apanharam tanto, foram tão humilhados e enganados que preferem dar conta de viver sem partilhar alegrias e tristezas. Cada um sabe de si e há aqueles que sabem melhor ainda, que não nasceram para viver a dois por alguns motivos que os fizeram desconfiados e temerosos. Há quem não tenha mais subsídios emocionais para enfrentar o outro. E a crença de que ninguém no mundo se sentiria feliz conosco (aí entra o fator fidelidade que é um caso de foro íntimo) reforça mais essa decisão. Cada um faz concessões, a seu modo. Mas há quem prefira não se submeter aos caprichos muitas vezes mesquinhos e estúpidos do outro.
Bem, isso tudo é fruto da minha observação durante a vida e aquela que foi minha opção há anos está se confirmando como a melhor escolha. Por que? Porque a cada dia tenho mais certeza de que fiz a escolha certa, porque a cada dia sinto mais paz e felicidade verdadeiras dentro do meu coração. Só sei agradecer e agradecer a tudo o que foi e tem sido minha vida!!!
Mas não me perguntem se na juventude eu queria encarar a velhice....
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