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sábado, 28 de março de 2015

O GRANDE NAVIO





Ainda tenho algumas questões que incomodam a alma e seria bom resolver. Não  preciso viver com essa perturbação que, tenho certeza, é fruto da falta de capacidade de enxergar a coisa de outra maneira. Deixar que o passado volte à memória como se para justificar o que vivo no presente é lamentável. Sei disso.  Difícil é saber por onde começar. Esperar que a própria vida traga uma situação que provoque uma reviravolta em certas condições é contar com o ovo no anus da galinha (para não ser mais explícita...). Conto com meu trabalho interior. Mas a certa altura da vida as pessoas sabem que estão chegando ao porto onde irão pegar o "grande navio". Uma viagem desconhecida está no roteiro de cada um de nós. No meu caso não há medo do que pode vir a ser. O que perturba é saber que tenho que deixar as pessoas que mais amo. Mas sabe-se lá o que acontece depois que pegarmos o tal navio? Talvez tudo se apague da lembrança e nem saibamos mais quem somos, o que vivemos, com quem compartilhamos nosso amor, e aí já é um outro cenário, por enquanto totalmente fora de nosso alcance, enquanto não subirmos as escadinhas para chegar ao grande navio.

A velhice traz suas vantagens. Temos mais tempo para preparar as malas. Mas o lado difícil é encarar que "temos que começar a preparar as malas". 

Por isso gosto de ler os grandes filósofos e escritores que tiveram uma vida interior bastante movimentada, cheia de experiências difíceis e ver que conseguiram, cada um a seu modo, expor suas dificuldades através de suas palavras. Gosto de Kafka, Clarice Lispector, Vergílio Ferreira, Krishnamurti, Eckhart Tolle, Marcel Proust, e tantos outros que me encantaram os dias. Alguns mais espiritualizados que outros, mas todos, cada um a seu modo, teceram a manta que me agasalhou por muitos anos. Ajudaram-me a suportar as dúvidas com menos angústia. 

Já presenciei milagres que chegaram a tempo de eu não sucumbir. O que quero mais?

AGRADEÇO AO SER SUPREMO QUE ME AMPARA SEMPRE QUE PRECISO DE SUA AJUDA!!!

Pedir mais seria uma ingratidão. Mas se há algo a pedir será discernimento e aceitação do que É. Nada mais é preciso. A vida é uma viagem até o porto onde o grande navio nos espera. Pode ser uma experiencia fascinante!

terça-feira, 10 de março de 2015

tudo existe por alguma razão




quadro pintado por minha mãe (técnica:pontilhismo)



Carregar dentro de si uma dor invisível, sem saber sua origem, mas suspeitar que se trata de algo relacionado com rejeição, falta de afeto, de amor, de toque, de carinho, tudo isso são suspeitas. E com suspeitas não se pode tomar uma atitude concreta, definida, direcionada. Fica tudo dentro de um limbo insuportável que gera ansiedade. Talvez esse material, produto dessa condição de invisibilidade da dor seja matéria prima para muitos artistas. Aqueles que mais souberam transmitir essa condição foram, ao menos para mim, os escritores. Em seguida, os músicos e pintores, e os escultores. Todos eles procuram passar em suas obras algo que nunca poderia ser comunicado fora da arte. Porque no fundo, a vida é arte. Com toda a dor que ela possa carregar dentro de si.

Contra o invisível pouco se pode fazer. Talvez por isso exista a arte. Se resolvêssemos no plano concreto o invisível, a arte deixaria de existir.

Estamos num beco sem saída...

Em tempo: minha mãe era uma artista. 

domingo, 8 de março de 2015

VIVER MAIS PROTEGIDO E CONECTADO



Just Like Heaven
http://photo.net/photodb/photo?photo_id=17919867


O mundo anda tão emporcalhado com corrupção por todos os lados, que cada vez mais sinto necessário criar um mundo à parte, protegido de toda sujeira, para que a vida seja possível. A auto-proteção começa, não por desinformação do que está acontecendo -afinal precisamos saber daquilo que nos rodeia - mas por desenvolver sistemas de filtragem no uso do nosso tempo de maneira a não nos afastarmos de nossos valores. Continuar a querer bem, a colaborar com pessoas, a prestar pequenos favores, oferecer palavras de incentivo àqueles que continuam em sua luta pelo pão de cada dia, ajudar no que for possível (às vezes um olhar mais atencioso, uma palavra gentil na hora certa, um sorriso de compreensão é tudo o que se precisa). Ajustar a sintonia fina dos nossos sentidos e olhar ao redor com olhos de "primeira vez" ajuda bastante. Aquele seu vizinho a quem você tem pré disposição de julgá-lo por algum motivo superficial, é às vezes pessoa de bom coração que está precisando apenas de um pouco de atenção. O movimento tem que começar a partir de nós em direção ao outro e tudo fica mais fluido, mais leve.

Não é fácil viver, todos temos nossos perrengues, mas um problema compartilhado com alguém que tem a boa vontade de apenas ouvir o outro, já diminui sua carga pesada. 


No fundo temos sentido que o mundo precisa de mais amor e compaixão. Há muita gente que já vive isso de forma intensa. Sempre há quem nos dê exemplos edificantes ao longo de apenas um dia. Se assim não fosse, os dramas humanos estariam mais disseminados e aparentes. Há ajuda sutil e oculta do nosso alcance, que está sendo providenciada por pessoas de quem menos esperamos. 


Se cada um começar em sua vizinhança, sua rua, seu bairro a prestar atenção às muitas oportunidades de uma pequena ajuda, e o quanto esta seria valiosa para umas tantas pessoas, viveríamos com mais leveza apenas por termos feito alguma coisa por alguém a cada dia.