Hoje, ao chegar no estacionamento do supermercado, após as compras, percebi ao lado do meu carro, uma cena que me chamou a atenção: um pai com sua filha, colocando as compras no carro. Até aí tudo normal, sem novidade. O que me impressionou foi a forma como ele tratava a garota. Com uma atenção e delicadeza marcantes, onde havia um espírito lúdico no diálogo com ela, sempre usando palavras que faziam a menina dar boas risadas, pois o pai imitava talvez algum personagem de algum desenho animado ou programa da TV. Fiquei tão feliz em ver aquela cena que me dirigi a ele e perguntei se era o pai daquela garotinha. Diante da afirmativa dele, eu disse: "curta muito todos os momentos que puder com sua filha. Você não sabe como isso é importante e será mais importante ainda no futuro, quando ela for adulta e se lembrar de você. Eu não tive essa sorte."
Meu pai sempre foi muito machista e acho que julgava que relacionar-se amorosamente com as filhas e com minha mãe fazia-o menos homem. Isso há 55/60 anos atrás era mais do que comum. Os homens tinham medo de mostrar seu lado afetivo. Achavam que iam perder a autoridade se o fizessem. Resultado: nunca recebi um gesto ou palavra carinhosa dele. O que restou como lembrança? Frustração por não ter tido essa troca tão importante com meus pais (minha mãe também não sabia ser carinhosa com atitudes, mas substituia isso pelo bom trato que dava a nós, filhas, cuidando da alimentação, vestuário, etc.)
Hoje sou uma pessoa que tenho perfeita consciência do quanto me fez falta o afeto dos pais. Refletiu no meu casamento, que não durou muito (em parte por isso) e nos relacionamentos em geral, por minha absoluta falta de auto-confiança. Só agora, depois de velha, consigo lidar bem com as pessoas, estou bem resolvida depois de muito trabalho interior. Mas a vida é muito curta para se gastar quase toda reparando danos que nos foram feitos. Sobra pouco tempo para tomarmos posse de nosso ser e viver plenamente, pois vamos ter coragem de lidar com isso quando já é tarde demais...
2 comentários:
A forma como escreve cativa. É tão sincera, tão simpática... imagino que deve ser mesmo muito boa pessoa. Tomara que seja muito feliz, que usufrua desse conhecimento de si própria e que, sentindo-se mais confiante, se sinta mais disponível para os afectos que se cruzem consigo.
Um beijinho!
A vida é cheia de pequenas cenas, pequenos fatos, não é mesmo? Só que às vezes uns calam mais fundo que outros. Depende de como foi a vida de cada um de nós.
É tão bom encontrar uma alma como a sua, que me aquece o coração!!!
Beijinhos,
Sônia
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