Claro que as frases têm um efeito mais profundo dentro do contexto do livro. Vou ver se consigo publicar trechos do livro aqui no blog.
[15]
Conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu.
Reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo.
Pari meu
ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo.
[17]
São horas
talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. Vejo-me no
meio de um deserto imenso. Digo do que ontem literariamente fui, procuro
explicar a mim próprio como cheguei aqui.
[18]
Talvez o meu destino seja eternamente ser guarda-livros, e a
poesia ou a literatura uma borboleta que, pousando-me na cabeça, me torne tanto
mais ridículo quanto maior for a sua própria beleza.
[29]
Era a ocasião de estar alegre. Mas pesava-me
qualquer coisa, uma ânsia desconhecida, um desejo sem definição, nem até reles.
Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. E quando me debrucei da janela
altíssima, sobre a rua para onde olhei sem vê-la, senti-me de repente um
daqueles trapos úmidos de limpar coisas sujas, que se levam para a janela para
secar, mas se esquecem, enrodilhados, no parapeito que mancham lentamente.
[30]
Não me lembro da minha mãe. Ela morreu tinha eu um ano. Tudo
o que há de disperso e duro na minha sensibilidade vem da ausência desse calor
e da saudade inútil dos beijos de que me não lembro. Sou postiço. Acordei
sempre contra seios outros, acalentado por desvio.
Talvez que a saudade de não ser filho tenha grande parte na
minha indiferença sentimental. Quem, em criança, me apertou contra a cara não
me podia apertar contra o coração. Essa estava longe, num jazigo — essa que me
pertenceria, se o Destino houvesse querido que me pertencesse.
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