Algumas inseguranças a gente vai se dando conta e resolvendo durante a vida. Outras ficam tão soterradas, como certas ruínas e nem que a gente queira se livrar delas não sabe por onde começar pois nem sabe se existem...
Pois bem, só ontem é que me dei conta, ou como dizem, caiu a ficha, sobre uma questão que de tão bem enterrada aparecia em meus sonhos de maneira muito sutil, a ponto de eu não identificar o que era.
Estou de mudança pela enésima vez, só que agora muito ajudada pelo filho mais novo, já que sofri um tombo grave e ando sem poder descer e subir escadas. Aqui no prédio há 24 degraus para encarar e está difícil.
Notei que fico meio ansiosa até a mudança que será em breve e meu filho me pede mais paciência pois cada coisa tem seu ritmo e a burocracia é imensa no Brasil, como sabemos.
Desde os 8 anos de idade eu fui atormentada com esquemas de mudança de casa.
1) minha mãe pedia às filhas que rezassem para mudarmos logo da casa de minha avó. Eu ficava em conflito, pois adorava minha avó e minha tia. Tinha entre 6 e 8 anos na época.
2) conseguimos ir para um sobrado e lá ficamos por muitos anos, até que meus pais acharam que estava na hora de fazer alguma reforma na casa. Resultado: meu pai alugou uma kitttinete em São Vicente, onde havia só um quartinho. Ele ficava no sobrado e dormia lá. Minha mãe e irmã (ainda não tinha a 2a. irmã) dormiam num quarto minúsculo. Eu dormia no terraço da kittnete onde peguei uma gripe muito forte, rubéola e caxumba (3 vezes). Percebi que o climão era visível entre meus pais e quando voltamos para o sobrado a coisa ficou trágica. Ele já havia arrumado uma amante bem fuleira e minha mãe que já tinha depressão, tentou o suicídio. Eu a salvei em meio a uma plantação de milho perto de casa. Estava desmaiada e eu com 19 anos fui quem a levou de taxi para o pronto socorro.
3) Meus pais se mudaram para um apartamento em outro bairro e eu a essa altura já estava trabalhando fora. Minha mãe tentou novamente o suicídio e desta vez quem a salvou foi minha tia paterna. Eu fui dirigindo no meu fusca à noite para vê-la, desci a serra com os joelhos batendo um no outro, por nervoso, e ao chegar ao hospital falei uma frase da qual não me arrependo até hoje:" Mãe, na próxima vez veja se faz bem feito." Estava no último grau de estresse.
4) Morei num pensionato para professoras cuja pensionista nos fornecia "refeições": todos os dias, arroz feijão e bife frito no óleo e na água para amolecer. O molho era feito com tomates que (fui informada) ela pegava no chão da feira.
4) Mudei-me para uma uma sala de escritório no ABC que eu e uma amiga adaptamos para moradia. Tinha um quarto/sala.um mini banheiro e só. Sem cozinha. Comecei a comer sanduíche de bacon com ovos numa lanchonete, o que acabou com meu fígado.
5) Nessa ocasião conheci meu atual ex-marido e me casei 6 meses depois. Fiquei casada por 9 anos, Na separação perdi tudo (casei com separação de bens) e depois disso morei em mais 8 apartamentos. Por vários motivos eu tinha que me mudar, nem vou enumerar aqui.
Hoje aos 75 anos vou fazer a que, espero, seja minha última mudança na Terra. Sofri um tombo feio e não posso mais subir e descer as escadas do apartamento onde moro.
Vou para o 16. andar e espero, se tudo der certo, acabar meus dias lá e se me for permitido ir para o alto, já estarei mais pertinho do céu.
Um comentário:
Uma ideia bonita, estar mais perto do céu. Espero que esteja a ser um bom lar.
um beijinho
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