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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

UM MAL-ESTAR QUE HOJE SERIA CONSIDERADO UM ASSÉDIO SEXUAL

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Talvez pelo fato de o tema estar em destaque esses dias, lembrei-me de um mal-estar que passei quando tinha meus 10 anos de idade.

Hoje já seria caracterizado por importunação sexual, ou algo do tipo.

Estava numa pizzaria em São Vicente com minha família: pais, avô e irmã. Comíamos uma pizza, que era um prato que eu amava...e de repente percebo que em uma mesa próxima, um par de olhos masculinos me espreitava. Olhava fixo para mim, e ao perceber que insistia, baixei os olhos e tentei levar à boca mais um pedaço da pizza. A coisa não desceu bem. Ao levantar os olhos eis que o homem além de olhar, sorria. Fiquei constrangida, pois além de tímida tinha medo que meu pai percebesse. Ia dar barraco, pois ele era nervoso e tinha pavio curto. 

Contei isso porque o fato de não me sair da memória é sinal de que foi um acontecimento marcante. Para quem já tinha medo do pai desde que nasceu, o fato de ver um outro homem numa atitude que me fazia encolher de medo, deixou tudo numa dimensão confusa e apavorante. Nunca contei isso pra ninguém, estranho. Agora entendo porque muitas mulheres deixam de relatar um abuso sexual logo após o incidente. Há algo na natureza de uma mulher que é frágil demais. Existe um medo de que a culpa seja nossa, mesmo aos 10 anos. Eu era bonitinha mas nunca havia passado por situação semelhante.

Esse homem que me violentou com o olhar asqueroso devia ter na época uns 30 anos mas conseguiu estragar meu jantar. A pizza que eu tanto adoraria ter comido ficou quase toda no prato.

O mais instigante é constatar agora que ninguém da minha família percebeu. Viram como é complicado???

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Será que havia estresse?

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Tenho idade suficiente para ter vivido o tempo em que não havia TV, celular nem internet.  O primeiro telefone de que tenho lembrança era preto, pesadão, e quase inacessível nos meus 4/5 anos de idade. Lembro-me de que as pessoas viviam seus dias enfrentando tudo com uma relativa boa vontade. A geladeira na casa da minha avó era um armário com uma repartição de alumínio, onde se colocava uma grande pedra de gelo, que chegava num carrinho. O carregador trazia a pedra envolta num pano e eu sempre achava que ele ia deixar cair a pedra no chão. Não sei como providenciavam comida naquela casa pois minha avó não saía para as compras. Minha tia fazia todo o serviço da casa e minha mãe cuidava de nós, filhas. Acho que meu pai comprava as coisas. Logo que pude sair à rua fui escalada  para comprar o pão do lanche da tarde. Perguntava à minha tia: suiço ou de água? Lá vinha eu com a bengala e o chá mate já estava esperando à mesa. 

Pulando no tempo, hoje moro sozinha, tenho celular, TV a cabo e internet. Adoro o progresso. Não trocaria isso por nada dos tempos antigos. Nada? Sim, trocaria uma coisa: daria tudo para saber como é viver sem estresse. Naquele tempo não se falava nisso. Será que havia estresse? Via as pessoas tristes ou alegres, bravas ou felizes, mas a palavra estresse ainda não havia sido inventada. Talvez o estado emocional já habitasse os seres amorosos que cuidavam de mim, mas a vida corria mais naturalmente...