Durante muitos anos fui omissa em relação a
tantas coisas que poderia ter feito, tantos esquemas nos quais poderia ter me
engajado para o bem das causas humanitárias, dos direitos dos cidadãos, do
auxílio voluntário aos que necessitam de cuidados. Sei que isso precisa ser
feito com boa condição física e emocional de quem se propõe a fazê-lo. Meu ser,
desde adolescente, tem tido dificuldade em jogar-se de corpo e alma a tudo
aquilo que uma parte de mim ansiava por fazer.
Faltava-me coragem, confiança em minha capacidade, enfim, alguma coisa
impediu, que só hoje começo a decifrar. Só hoje, já mais preparada para viver
com as limitações que a idade vem impondo, é que me senti com vontade de voltar
30 ou 40 anos e poder justificar minha vinda ao mundo. Só hoje sei o que me
impediu de ousar. E o que mais me dói é que conheço minhas qualificações para o
que deveria ter feito e não fiz. Acabei me acovardando dentro de uma opção de
vida que desde o começo já estava condenada ao fracasso, (que veio acrescentar
mais medo e falta de confiança à minha natureza antes tão disposta) e o que
ficou foi uma vida medíocre, se é que posso dizer isso, comparando-a com
pessoas que fizeram tanto pelos outros. Não faltou auto motivação para fazer
cursos, participar de atividades voluntárias por alguns anos, mas tudo foi
feito por algum tempo, não o suficiente para levar a alguma realização
palpável. Tudo durou pouco. Meu curso de medicina alternativa (de 2 anos)
permitiu que eu fizesse uma sociedade com duas pessoas e criasse um espaço para
praticar o que aprendi, mas não teve sucesso. Minhas sócias que nasceram e
viveram a vida inteira nesta cidade é quem tinham seus clientes e nunca
compartilharam uma parte deles comigo. Eu, como não conheço quase ninguém aqui
onde moro, ficava às moscas, sem clientes e isso me fez desistir depois de 3
meses pagando despesas e não recebendo um centavo de retorno.
Reparei, fazendo um exame mais detalhado em minha vida, que
tudo aquilo em que me envolvi no sentido de prestar um trabalho voluntário, já
que me aposentei, foi arrebatado de mim por motivos fortes, que chegaram a
prejudicar minha saúde.
Hoje costumo oferecer ao Ser Supremo todos os momentos em que
estou executando uma tarefa "menor", pois tenho perfeita consciência de que
poderia estar envolvida em tarefas mais nobres. Chegam imediatamente à minha
lembrança, vivências de épocas muito difíceis, onde precisei de sorte para
atravessá-las com corpo e mente preservados. Então valorizo o que sou. Faço
tudo o que for preciso com capricho, amor e oferecendo como crédito ao
transcendental. Não sei se existe vida depois desta, mas suspeito de que o fato
de não termos provas de nada pode servir
de motivação e esperança em depositar nosso esforço a uma Força Maior. Ao menos
para que possamos ser espontâneos e não barganhar com Deus.
Sempre fui
só e um fio de esperança me conduziu até aqui. Hoje tenho medo de que esse fio
se rompa.
Em tempo: o texto acima foi redigido há anos. Hoje já não sinto que minha vida foi vivida em atividades menores. Ao contrário, lembrando até onde a memória permite, percebo que vivi intensamente. Sempre. Portanto, se fiz o que fiz, assim teria que ser feito. Sou grata a tudo, até ao sofrimento. Através dele é que cheguei onde estou e posso assegurar que estou feliz com o resultado. Não trocaria minha vida por outra qualquer.
2 comentários:
Revi-me em partes do texto, no sentir sobre o que poderia ter feito e não fiz, fiquei a pensar se algum dia olhando para trás poderei senti-lo de outra forma.
um beijinho e uma boa noite
Gábi
A vida é dinâmica, querida amiga deste mundo virtual. Com certeza a sua que já deve ser plena de atividades vai entrar num estágio em que será observada pelo espelho retrovisor. Acredito que vai surpreendê-la como a minha me surpreende até hoje.
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