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sábado, 24 de maio de 2014

antes tarde do que nunca








As pessoas ainda se encolhem quando têm que admitir certas doenças, como se tivessem culpa por tê-las. Há uma espécie de vergonha, que vem de tempos remotos, quando víamos pessoas com lepra, isoladas em locais onde ninguém ousava chegar perto. Apenas médicos especializados tratavam desses seres como podiam, já que os recursos e conhecimentos sobre a doença não permitiam que muito fosse feito para o benefício deles. Fico pensando no sofrimento de tanta gente, não só pela dor física, mas pela dor emocional, por não terem contato com o mundo. O mesmo acontecia com os tuberculosos, que eram isolados do mundo em locais afastados, pois ainda não havia cura para esse mal, e acabavam morrendo sem que pudessem ver seus entes queridos, proibidos de entrar nesses locais de isolamento.

Hoje queria falar sobre a depressão. Passei a vida inteira negando esse mal do século, talvez por duas razões: uma inconsciente e outra por ignorância. Minha mãe sempre teve depressão, tomava 6 remédios por dia e nunca se curou. Eu jurei que se tivesse esse mal iria vencer sem remédio algum. Apenas com recursos alternativos. O motivo da ignorância é que há muitos anos sofro de crises de ansiedade que se revezam com períodos de relativa calma. A última grande crise foi no ano 2000, depois disso tive pequenas crises que não chegaram a interferir no meu ritmo de vida.  Nunca deixei de fazer nada que fizesse parte de minha rotina  por causa dessa ansiedade. Apenas sofria calada, com a energia diminuída e pouca disposição física. 

Só agora, já em plena velhice, acordei. Depois de sofrer fratura do colo do femur e ficar 3 meses sem poder sair de casa, movimentando-me apenas com o auxílio de um par de muletas, não sabia que isso me levaria a uma posterior ansiedade fortíssima, a ponto de afetar minha respiração (sensação de sufoco) e minha voz (que saía fraca e dissonante). 

Encarei o psiquiatra. Estou me tratando sem considerar o meu passado de resistência a isso. O que ouvi do médico serviu-me como uma lição de vida. Ao final da consulta ele disse: "o fato de você até agora ter negado que tem depressão fez com que sofresse mais do que se tivesse se tratado antes".

E ontem, ao esperar para ser atendida por minha fisioterapeuta que está me ajudando com acupuntura, auriculoterapia e massagem, tive vontade de anotar o que me chegou ao pensamento e aí vai para quem quiser ler:

1) Tenho que reaprender a me interessar pelas bobagens da vida.(porque quase tudo é bobagem)

2) Há algo em comum na paixão e na depressão. Ambas provocam sofrimento. Só que a paixão é o êxtase e a depressão é o aniquilamento.

domingo, 11 de maio de 2014

Pessoa, sempre!




(imagem da internet)




repasso...



Uma das mais belas construções do místico Pessoa , relembro-a sempre quando há amigos enlutados e sensíveis por acudir e dar uma força.




Já não me pesa tanto o vir da morte
Sei já que é nada, que é ficção e sonho
E que, na roda universal da Sorte,
Não sou aquilo que me aqui suponho.

Sei que há mais mundos que este pouco mundo
Onde parece a nós haver morrer _
Dura terra e fragosa, que há no fundo
Do oceano imenso de viver.

Sei que a morte, que é tudo, não é nada,
E que, de morte em morte, a alma que há
Não cai num poço: vai por uma estrada,
Em Sua hora e a nossa, Deus dirá.