Ai, que saudade que eu tenho da minha infância. Tudo aquilo de que sentia falta era percebido de maneira muito sutil, porque na época me era impossivel refletir mais profundamente sobre isso e acabava passando como uma brisa que não chegava a causar grandes danos. E eu ia vivendo os meus dias como podia, aproveitando a natureza que era abundante na casa da minha querida avozinha, por quem ainda choro de saudade. Passava os dias na "floresta", que era um quintal imenso com muitas árvores frutíferas das quais acompanhava o crescimento e as 4 estações. Saboreava seus frutos deliciosos, dentre os quais: abiu (a mais gostosa fruta que já comi), jabuticaba, araçá, goiaba, fruta do conde, amora, mamão, ameixa, morango, etc.
Não vou falar da parte dolorosa de minha infância, pois o sentido desta publicação é talvez uma explicação que acabei de achar para o fato de ter buscado uma cachorrinha.
Vejo nela minha própria criança. Vejo nela a expressão serena e a impossibilidade de comunicação com palavras de tudo o que gostaria de viver. Procuro adivinhar nessa querida amiguinha os seus mais ínfimos desejos e satisfazê-los na medida do possível. Faço uma ponte que só me faz bem. Vejo-a nos lugares da casa de minha avó, sentadinha nos degraus de uma escada que para mim era meio misteriosa, com acabamento arredondado em cimento rústico, que levava ao andar superior do sobrado, meio alvenaria e meio madeira.
Não posso voltar à infância, mas posso estudar e resgatar o que passei através dessa cachorrinha, pois ela veio ao meu encontro para buscar um pouco de carinho. Peguei-a com 1 ano e 2 meses, de uma casa onde passou por momentos difíceis, sofrimentos, que a deixaram assustadiça e medrosa. Estou cuidando dela para que perca esse medo e adquira confiança na vida. Ela é minha própria criança muitas vezes abandonada aos próprios pensamentos, às perguntas sem resposta que costumava fazer a mim mesma.
Mas o colo de minha avó, ah, o colo da minha avó era o bálsamo para minhas feridas, principalmente quando ela se punha a contar estórias lindas, as quais ainda me lembro, que me encantavam os dias e as noites.
Obrigada, querida vovó!
4 comentários:
Olá Sónia,
Que texto tão bonito e tão sentido. Parece haver na sua memória momentos de sombra de que não gosta nem de pensar. Em contrapartida fala com tanta ternura da sua Avó e da casa em que ouvia as histórias contadas por ela.
Um texto delicado como uma caixinha de música.
E vejo que a amizade com a sua menina-cachorrinha continua a sedimentar-se. Que bom.
Beijinhos aqui deste lado do Atlântico!
Olá Um Jeito Manso,
sempre que leio seus comentários tenho a sensação de que alguém captou perfeitamente o que eu quis dizer. Estou virando as páginas que não me trazem benefício algum, a não ser lágrimas amargas, e prefiro as lágrimas doces, essas que valem por uma vida! Os fatos vão se desenrolando através dos anos e temos que saber selecionar para viver melhor o que nos resta!
Um abraço com carinho daqui do Brasil.
Olá Sónia,
Li o seu texto e entendo como os traumas em criança podem afetar o percurso das nossas vidas, e também dos animais, e a sua cachorrinha deve ter passado alguns momentos difíceis quando bebé e que a afetaram. Também tive uma cachorrinha assim, tal e qual a sua mas toda branquinha a "Branquinha" como a batizei. Andava abandonada e deve ter sido mal tratada, fugia ao mais pequeno sinal quando me tentava aproximar dela, entrava pelo jardim e aninhava-se em buracos, eu deixava-lhe comida com muito carinho e palavras meigas, depois foi ganhando confiança até que um dia ficou grávida e ofereceu-me três lindos cachorrinhos. Foi a maior alegria da minha vida, e os anos que se seguiram foram de uma autêntica paixão mútuas. Mas o destino dá e tira e nós temos que nos preparar para as grandes surpresas da vida porque dói muito. Quando oportuno, arranje-lhe uma amiguinha, fará bem a ambas!...
Não leve a mal este meu conselho, pois sou uma apaixonada pelos animais e sei como a companhia de uma amiguinha de quatro patas pode fazer a diferença nas nossas vidas!
Um beijinho
Maria, para ter uma idéia de o quanto essa cachorrinha representa em minha vida agora, estou procurando um novo imóvel, onde haja algum canto em que ela possa tomar sol. O apartamento que aluguei, onde moro desde setembro, é muito frio no inverno e não bate uma nesga de sol. Estou correndo em busca de outro canto, pois tanto eu como a Juju precisamos de um lugar ao sol.
Obrigada por suas palavras tão carinhosas, que me dão alento. Sei que nada é para sempre, mas precisamos viver bem o dia de hoje e não quero que minha cachorrinha sinta frio. Vou procurar uma moradia para nós duas que seja bem aconchegante. Eu dou valor a ela como se fosse uma filha, acredita? Assim que puder vou arrumar-lhe uma companhia, ou quando ela tiver filhotes ficarei com uma, ou adoto outra cachorrinha. É uma questão de tempo. No próximo cio dela já terá quase 2 anos, acho que dá para cruzar. Vou me informar com o veterinário dela, que é homeopata.
Um grande abraço.
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