O que será essa sensação de que as coisas, depois de algum tempo comigo, podem ter criado uma alminha? Sinto gratidão por terem me servido por tanto tempo, que na hora de ter que me desfazer delas penso que seria necessário um ritual de agradecimento por terem me feito companhia.
Não pensem que sou como os "acumuladores" de um programa de TV, que vão juntando coisas a ponto de não terem lugar por onde transitarem dentro de suas casas. Ao contrário: sou do tipo que gosta de tudo "clean", quanto menos tranqueira, melhor.
Acontece que dentro de alguns dias vou mudar de apartamento e já comecei a encaixar as coisas. Podia pegar 50% do que tenho e simplesmente jogar no lixo, pois adoro ter poucas coisas, mas detesto precisar de uma chave de fenda, por exemplo, e ter que sair correndo para comprar uma de última hora.
Como decidir se uma coisa está velha e precisa ser substituída, se ela ainda me serve tão bem? Resolvi telefonar para uma entidade assistencial e sem pensar muito avisei que vou doar um dos meus sofás (o maior) e uma estante de PC dos primórdios da Evolukit.
Será que um pouco da energia da gente não fica impregnada nessas coisas que nos acompanham e essa é a razão por achar estúpido simplesmente descartar tudo o que está ficando velho?
A verdade é que não sei decidir quando uma coisa está velha, já que sou cuidadosa e a conservo em perfeito estado. Não sou, decididamente, consumista. Acho insano ir trocando 6 por 1/2 dúzia só porque é mais "moderninho". E ao mesmo tempo invejo quem não tem o mínimo escrúpulo em se desfazer de toneladas de tranqueiras.
Meu apartamento é pequeno, tenho o mínimo de móveis mas há coisas que me incomodam e que estão me deixando biruta nesses dias. Vou ter que me desfazer de meus LP's que amo, mas para ouvi-los precisaria comprar um toca-discos. Talvez o faça. Os livros estão todos garantidos de me acompanharem até meus últimos dias. Esses são seres sagrados, nem se discute sobre doá-los ou vendê-los. Seria um crime cruel demais.
Mas o que dizer de uma lixeirinha de pia que está perfeita, e só porque a vejo todos os dias enjoei e quero comprar outra? Lá se vai mais lixo reciclável para poluir ainda mais o paneta.
Bem, esse papo ainda iria longe, mas vou ficar por aqui, pois preciso caminhar e ao mesmo tempo refletir mais sobre a "alma das coisas"...
2 comentários:
os objectos existem para nos facilitar a vida, não para servirem de exemplo do nosso poder de posse.
Um belo texto, de cujo conteúdo comungo.
Bj
AC,
a alminha independe do sentimento de posse, tanto que acabei de mudar de apartamento e fiz doação de uma série de coisas que não estava mais usando. Gostosa a sensação de doar e perceber que a alma da gente se enche de alegria.
Grata por sua visita ao blog.
Bj
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