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domingo, 24 de junho de 2012

RELAXAMENTO E EMANCIPAÇÃO

Noto um relaxamento nas atitudes das mulheres que me parece uma tentativa de emancipação, de querer os mesmos direitos dos homens, e é aí que a confusão se instala. 


Vou explicar melhor e vocês julguem como queiram.


Ontem,  almoçando num restaurante, percebi que a moça ao lado de minha mesa, acompanhada do namorado e de mais dois casais, comia como uma pessoa desprovida de um dos membros superiores, ou seja, não sabia fazer uso da faca. Enfiava bocados inteiros de agrião, (entenda-se folha e galhos) na boca e "socava" com o garfo, já que por ser o volume maior que sua boca, necessitava da ajuda de uma ferramenta que acomodasse os bocados. Fiquei hipnotizada, não conseguia tirar os olhos daquela cena. Já vi cabras comendo com mais elegância.E pensei que seu acompanhante não notou a bizarrice nem iria notar nunca, pois era um tipo que não parecia ter melhores modos que ela. Estava mais interessado em enfiar pedaços de batatas na boca, como sua namorada faria em seguida aos ramos de agrião. 


Esse fato me fez lembrar um outro, verídico também, contado por uma conhecida que morava com o sobrinho. Esse rapaz tinha uma namorada que numa certa noite iria jantar na casa deles, para comemorar o pedido de casamento, que seria feito em pleno jantar. Quando a moça chega, entra  na sala e atira a bolsa sobre o sofá, antes de cumprimentar as pessoas. Pois bem, esse inocente gesto brusco foi o que bastou para o rapaz desmanchar o compromisso. Disse ele à tia que aquilo foi uma agressão que ele não conseguiu deixar de perceber. Ficou imaginando se conseguiria aturar gesto semelhante na vida de casados. Achou-a relaxada e imaginou que isso não iria ficar só por aí. Terminou no ato, e imagino que até hoje a moça deva estar pensando o que gerou tal atitude por parte do namorado.


Contei esses casos para refletir sobre uma coisa: direitos das mulheres não significa incluir a perda de feminilidade, que é justamente a parte nobre do sexo feminino, a delicadeza de gestos e comportamento. Não quero dizer com isso que se deva ser blazé, acomodada, lerda e folgada...,mas há uma feminilidade nas mulheres que é a maior arma de que dispoem. Se elas não se vigiarem e botarem isso a perder, a humanidade estará condenada a ter um sexo só: o hermafrodita, e está tudo resolvido. Acabam-se as guerras entre os sexos....

segunda-feira, 11 de junho de 2012

quero ser a Maxine!





Queria fazer uma experiência, se fosse possível. Dormir como sou e acordar eu mesma, mas numa situação em que já tivesse me acostumado e me adaptado perfeitamente ao que se costuma chamar: velhice. Sim, porque essa definição "velha" ou "idosa" ainda não fica bem para mim. Sinto que estou - mal comparando - na segunda adolescência, que no caso precede a velhice. E como toda adolescente, estou insegura, confusa, desorientada, sem perspectivas. Pra não falar de certo mau humor, implicância com coisas e pessoas, o que se assemelha muito à primeira adolescência. O que compensa todo esse pacote de dissabores é meu bom humor. Estou sempre pronta a um diálogo, vejo certas coisas pelo lado humorístico e me pego rindo por dentro de roteiros que vou criando para situações que poderiam ser tragicômicas, como quase tudo na vida.

Vejo senhoras, quando vou à rua, perfeitamente encaixadas em seus status, caminhando tranquilamente, com um olhar de quem já aceitou sem problemas a situação que hoje desfrutam, diria até, com um certo brilho nos olhos. É como se dissessem: missão cumprida. E continuassem a desfilar seus vestidinhos soltos, seus cabelinhos brancos, seus sapatinhos baixos, de encontro a seus filhos e netos, curtindo a vida com natural serenidade.

Confesso que nem de longe vislumbro minha pessoa numa situação dessas. E não é por falta de idade cronológica, mas acho que até, por uma questão de hereditariedade, meus antepassados nunca ficaram "velhinhos". Meus filhos chegaram a me dizer: "o vovô não é um velho, né, mamãe? Quando ele vai ficar velhinho?"

Se eu seguir a tendência, vou desta para outra em plena segunda adolescência. Talvez um clone da Maxine, que eu adoro!


domingo, 10 de junho de 2012




Tarefa
Geir Campos

Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.





(quem quiser saber mais sobre o autor, clicar :  http://www.releituras.com/geircampos_tarefa.asp)

sábado, 9 de junho de 2012

AS TRÊS MULHERES


tres mulheres no poço - Picasso


Cada um de nós sabe o que significa zona de conforto. Geralmente é o lugar onde nos sentimos mais à vontade, relaxados, com liberdade para fazer o que bem entender, do jeito e no momento em que se quiser. Mas para que isso funcione, ao menos para mim, há que primeiro se submeter a um bom cansaço, daqueles de doer os ossos. Geralmente uma bela caminhada seguida de uma volta ao centro da cidade em busca de alguma coisa que falta e eis que começo a sentir uma saudade enorme no meu canto. Voltar para a casa já é um presente abençoado!


Hoje fiquei refletindo sobre os que não têm, os que tinham e agora ficaram sem um teto. São humanos, devem sentir também essa necessidade primordial de aconchego. Falo principalmente dos velhos, idade difícil de tocar a vida, e me incluo nessa faixa etária. Chamar de terceira ou melhor idade é querer dourar a pílula que vai se tornando mais amarga à medida em que vamos perdendo as oportunidades para uma vida mais divertida. Falo da minha experiência pessoal. Adoro viajar nos finais de semana. Mas já não acho muita disposição para enfrentar uma viagem sozinha, coisa que sempre fiz sem problemas. Sair em grupos,em excursões programadas é o tipo de coisa que nunca me atraiu. 


Hoje lembrei-me dos meus antepassados, principalmente as mulheres. Minha avó, minha mãe e uma tia que ainda vive e que faz 94 anos no mês que vem. Não consigo achar a vida interessante sem a internet, a leitura e a TV a cabo. Como sou privilegiada, comparada a elas! Suas opções eram o crochê, tricô, alguns programas da televisão aberta, visitas a amigas, etc. Felizmente as três moravam (minha tia ainda mora) em Santos e tinham a praia para encantar um pouco a vida.


No texto de hoje quero apenas prestar uma homenagem a essas mulheres que me precederam de maneira tão digna: minha avozinha querida sempre preparando refeições deliciosas para a família e seu lazer eram as novelas do rádio e o crochê. Um papinho com as vizinhas e olhe lá... e  sempre feliz da vida! Minha mãe,  bastante articulada, gostava e entendia de arte, teatro, literatura e estava sempre engajada em alguma coisa interessante. Minha tia sempre cuidando das pessoas doentes: família, vizinhos e amigas. É um ser totalmente desprendido de coisa materiais de quem nunca, em toda a minha vida, ouvi uma queixa contra a vida difícil que leva. Ajudar os outros tem sido sua missão. Solteira, bem velhinha e magérrima (36 kg) ainda mora sozinha e só há alguns meses se rendeu à ajuda de uma faxineira, 2 x por semana. 


A elas agradeço a oportunidade de me passarem a liberdade de escolha e a chance de estar usufruindo do resultado da educação que delas recebi. Faço votos de que, onde estejam, possam receber meus sentimentos de gratidão!