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sábado, 26 de agosto de 2017

UM FIO DE ESPERANÇA

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Durante muitos anos fui omissa em relação a tantas coisas que poderia ter feito, tantos esquemas nos quais poderia ter me engajado para o bem das causas humanitárias, dos direitos dos cidadãos, do auxílio voluntário aos que necessitam de cuidados. Sei que isso precisa ser feito com boa condição física e emocional de quem se propõe a fazê-lo. Meu ser, desde adolescente, tem tido dificuldade em jogar-se de corpo e alma a tudo aquilo que uma parte de mim ansiava por fazer.  Faltava-me coragem, confiança em minha capacidade, enfim, alguma coisa impediu, que só hoje começo a decifrar. Só hoje, já mais preparada para viver com as limitações que a idade vem impondo, é que me senti com vontade de voltar 30 ou 40 anos e poder justificar minha vinda ao mundo. Só hoje sei o que me impediu de ousar. E o que mais me dói é que conheço minhas qualificações para o que deveria ter feito e não fiz. Acabei me acovardando dentro de uma opção de vida que desde o começo já estava condenada ao fracasso, (que veio acrescentar mais medo e falta de confiança à minha natureza antes tão disposta) e o que ficou foi uma vida medíocre, se é que posso dizer isso, comparando-a com pessoas que fizeram tanto pelos outros. Não faltou auto motivação para fazer cursos, participar de atividades voluntárias por alguns anos, mas tudo foi feito por algum tempo, não o suficiente para levar a alguma realização palpável. Tudo durou pouco. Meu curso de medicina alternativa (de 2 anos) permitiu que eu fizesse uma sociedade com duas pessoas e criasse um espaço para praticar o que aprendi, mas não teve sucesso. Minhas sócias que nasceram e viveram a vida inteira nesta cidade é quem tinham seus clientes e nunca compartilharam uma parte deles comigo. Eu, como não conheço quase ninguém aqui onde moro, ficava às moscas, sem clientes e isso me fez desistir depois de 3 meses pagando despesas e não recebendo um centavo de retorno.
Reparei, fazendo um exame mais detalhado em minha vida, que tudo aquilo em que me envolvi no sentido de prestar um trabalho voluntário, já que me aposentei, foi arrebatado de mim por motivos fortes, que chegaram a prejudicar minha saúde.
Hoje costumo oferecer ao Ser Supremo todos os momentos em que estou executando uma tarefa "menor", pois tenho perfeita consciência de que poderia estar envolvida em tarefas mais nobres. Chegam imediatamente à minha lembrança, vivências de épocas muito difíceis, onde precisei de sorte para atravessá-las com corpo e mente preservados. Então valorizo o que sou. Faço tudo o que for preciso com capricho, amor e oferecendo como crédito ao transcendental. Não sei se existe vida depois desta, mas suspeito de que o fato de não termos provas de nada  pode servir de motivação e esperança em depositar nosso esforço a uma Força Maior. Ao menos para que possamos ser espontâneos e não barganhar com Deus.

Sempre fui só e um fio de esperança me conduziu até aqui. Hoje tenho medo de que esse fio se rompa.

Em tempo: o texto acima foi redigido há anos. Hoje já não sinto que minha vida foi vivida em atividades menores. Ao contrário, lembrando até onde a memória permite, percebo que vivi intensamente. Sempre. Portanto, se fiz o que fiz, assim teria que ser feito. Sou grata a tudo, até ao sofrimento. Através dele é que cheguei onde estou e posso assegurar que estou feliz com o resultado. Não trocaria minha vida por outra qualquer. 

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

PLANISFÉRIO HUMANO ou CARTA PLANA DO CORPO HUMANO






Tomando banho, de repente ao passar a bucha vegetal pelos braços e pernas, tive uma sensação de que meu corpo poderia ser escaneado e colocado como um planisfério. Seria isso uma carta do corpo humano representada em um plano? Estou cá tentando arranjar um nome para definir o que imaginei. Seria interessante cada pessoa ter seu "planicorpo" registrado em detalhes para que ao ser comparado com os demais, sirva como referência, ajudando-nos uns aos outros a percebermos as características de cada um, assim como ao analisarmos um planisfério, podemos magnificá-lo e descobrir o relevo de cada segmento, perceber as montanhas, rios, vales, vulcões, matas, desertos, enfim, a diversidade que se apresenta na superfície de cada corpo. 

Sei que é uma ideia louca, mas nos tempos da computação gráfica e dos vários recursos que temos ao nosso dispor, quem sabe alguém se arriscaria a tentar um relevo do corpo humano até como uma obra de arte? Não estou me referindo a um atlas do corpo humano e sim um mapa personalizado da superfície de um corpo, com os detalhes todos aumentados para melhor visualização e estudo. Poderíamos fazer um estudo comparativo e descobrir se há algo em comum entre os corpos que determine, por exemplo, a existência de certas doenças, ou mesmo a tendência a ter certos males que poderiam ser corrigidos a tempo...

Mas isso foi só uma ideia maluca. Algum cientista ou até mesmo algum artista poderia aproveitá-la e colocar em prática. Talvez eu possa explicar melhor a essa pessoa o que me veio à cabeça durante o banho ontem à noite, que fez com que eu visualizasse um esboço da carta plana do corpo humano.


Nota: o procedimento acima teria que ser feito no plano virtual, há que se fazê-lo com a pessoa viva, já que se for feito depois da morte não seremos mais que um tapete de vaca malhada, daqueles que se usavam (se usam ainda?) nas salas das casas rurais.

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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

DELICADEZA




De repente me descubro delicada. Devo ter sido várias vezes na vida, mas hoje tomei consciência da delicadeza dirigida deliberadamente a uma pessoa. Alguém por quem tenho muita estima, apesar do longo tempo sem nos falarmos. Há 8 anos que não nos vemos e nossa convivência maior deu-se na infância e adolescência. Depois disso cada uma tomou um rumo. Quando a vi há 8 anos, foi como se o tempo não tivesse passado. A mesma estima, a mesma espontaneidade, e aquela conversa gostosa que só temos com pouquíssimas pessoas na vida: ficamos desde a hora da janta até as 4h00 quase sem tomar fôlego numa troca de palavras que nos fez um bem imenso!

Agora, graças ao whatsapp voltamos a conversar um pouco, depois de uma lacuna considerável de tempo sem sabermos uma da outra. Muita água rolou sob as nossas pontes, mas o carinho que temos uma pela outra continua o mesmo! Quando comentei que envelheci muito nesses últimos anos que ficamos sem nos ver ela disse que eu precisava me animar, me produzir, procurar amizades e selecionar algumas, ir ao shopping me distrair, me vestir com capricho e usar maquiagem, sair sempre que possível, etc.... Acho que ela pensou que eu estava me queixando de ter envelhecido. Como é uma mulher muito bonita e vaidosa, deve ter concluído que relaxei, me entreguei e desisti de viver bem. 

Como as pessoas projetam nos outros seus ideais de viver bem!!! Mal sabe ela que agora é que estou na melhor fase da vida, se considerar a paz de espírito em que vivo. Posso até arriscar dizer que sou feliz, pois faço tudo o que gosto e se não me produzo nem vou ao shopping , se não me visto na última, se não corro atrás de amigas pra jogar a conversa fora, se não ando por aí correndo feito "pau de enchente" (expressão usada por ela, que gostei muito), é porque minhas escolhas e valores são outros. Não suportaria (mas respeito totalmente) viver como ela me sugeriu. 

Mas agora quero falar sobre o tema desta publicação: DELICADEZA. Armei-me de todo o cuidado para não proferir palavras erradas que possam sugerir que estou rejeitando o que ela disse e ao mesmo tempo dizer que a admiro por fazer o que gosta e estar feliz por isso. Até porque ela não suportaria a vida que levo. Somos totalmente diferentes, mas somos almas irmãs. Interessante que isso é possível e creio que consegui me expressar sem criticá-la e deixar claro que a tenho em grande estima e admiração por tudo o que já passou e superou com boa vontade e determinação. 

Eu, que já fui tão intolerante e reativa, marquei esse encontro comigo mesma e reconheci que aprendi a usar de delicadeza com os outros. E a entender claramente que as diferenças me enriqueceram!