Eu que vivo separando o que não vou usar mais e fazendo doação, ao menos uma vez por ano, deparei-me com uma situação nova e inesperada. Depois do falecimento de minha tia em junho de 2014 me propus a fazer a mudança das coisas dela para o depósito que tenho embaixo da garagem do apartamento onde moro. Foram dias de extremo cansaço, que nem vou comentar aqui. Já consegui dar um destino ao menos em 50% das coisas (roupas, sapatos, bolsas, crochê, tecidos. móveis, bolsas, enfeites, livros, revistas, etc).
Trouxe alguns móveis para meu apartamento, pois tenho lugar livre para colocá-los e coisas para serem colocadas em ordem (muitos livros, fotos, itens diversos, etc., etc.) e de repente me vejo em situação similar à de minha tia. Não tenho muita vida pela frente, ao menos no que diz respeito a disposição e força física para lidar com muita coisa. A pergunta é: até que ponto deve-se guardar pertences de nossos queridos antepassados? No fundo sou um pouco minha tia. Valorizo tudo o que me dão e também aquilo que representou motivo de felicidade para mim por algum tempo. Cursos maravilhosos que fiz de Biopsicologia, Terapia Alternativa, verdadeiros tesouros, que constituem um volume grande de apostilas e que ao mesmo tempo sei que não vou mais lê-los, por falta de tempo e talvez por medo de não poder praticar o que gosto tanto (aí a idade entra em jogo, pois faltam-me condições físicas para tudo o que já pratiquei um dia com desenvoltura e alegria).
Tenho que aprender a dizer ADEUS.
Às vezes já me aconteceu de passar pela calçada e me deparar com um mendigo, daqueles que têm consigo apenas um saco plástico onde guardam todos os seus pertences, e dizer para mim mesma: "ele é que é feliz! Está aí, vivo, com rosto alegre (algumas vezes) vivendo o dia a dia, ao Deus dará, mas nunca terá o problema de pegar em alguma coisa do passado e ficar olhando com saudade...
Às vezes tenho vontade de chamar um caminhão para levar tudo o que está acumulado. Não quero ser um problema para meus filhos quando deixar o planeta. Já os vejo dizendo: "a mamãe dizia que a tia era acumuladora mas ela é igualzinha".
Quero chegar ao ponto de chamar um caminhão, jogar tudo dentro, dizer ADEUS e não olhar para trás.
14/1/2015
Nota: praticar o desapego é como andar ladeira abaixo. Uma vez que se começa a praticá-lo, não se pode parar. Tudo é facilitado apenas por se ter iniciado o caminho. Já estou em franco progresso. Tudo fica mais leve quando você descarta o que não é essencial, o que não está em uso. Fazer disso um hábito, como ir ao médico para um check-up é saudável e traz bem estar.