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sábado, 9 de junho de 2012

AS TRÊS MULHERES


tres mulheres no poço - Picasso


Cada um de nós sabe o que significa zona de conforto. Geralmente é o lugar onde nos sentimos mais à vontade, relaxados, com liberdade para fazer o que bem entender, do jeito e no momento em que se quiser. Mas para que isso funcione, ao menos para mim, há que primeiro se submeter a um bom cansaço, daqueles de doer os ossos. Geralmente uma bela caminhada seguida de uma volta ao centro da cidade em busca de alguma coisa que falta e eis que começo a sentir uma saudade enorme no meu canto. Voltar para a casa já é um presente abençoado!


Hoje fiquei refletindo sobre os que não têm, os que tinham e agora ficaram sem um teto. São humanos, devem sentir também essa necessidade primordial de aconchego. Falo principalmente dos velhos, idade difícil de tocar a vida, e me incluo nessa faixa etária. Chamar de terceira ou melhor idade é querer dourar a pílula que vai se tornando mais amarga à medida em que vamos perdendo as oportunidades para uma vida mais divertida. Falo da minha experiência pessoal. Adoro viajar nos finais de semana. Mas já não acho muita disposição para enfrentar uma viagem sozinha, coisa que sempre fiz sem problemas. Sair em grupos,em excursões programadas é o tipo de coisa que nunca me atraiu. 


Hoje lembrei-me dos meus antepassados, principalmente as mulheres. Minha avó, minha mãe e uma tia que ainda vive e que faz 94 anos no mês que vem. Não consigo achar a vida interessante sem a internet, a leitura e a TV a cabo. Como sou privilegiada, comparada a elas! Suas opções eram o crochê, tricô, alguns programas da televisão aberta, visitas a amigas, etc. Felizmente as três moravam (minha tia ainda mora) em Santos e tinham a praia para encantar um pouco a vida.


No texto de hoje quero apenas prestar uma homenagem a essas mulheres que me precederam de maneira tão digna: minha avozinha querida sempre preparando refeições deliciosas para a família e seu lazer eram as novelas do rádio e o crochê. Um papinho com as vizinhas e olhe lá... e  sempre feliz da vida! Minha mãe,  bastante articulada, gostava e entendia de arte, teatro, literatura e estava sempre engajada em alguma coisa interessante. Minha tia sempre cuidando das pessoas doentes: família, vizinhos e amigas. É um ser totalmente desprendido de coisa materiais de quem nunca, em toda a minha vida, ouvi uma queixa contra a vida difícil que leva. Ajudar os outros tem sido sua missão. Solteira, bem velhinha e magérrima (36 kg) ainda mora sozinha e só há alguns meses se rendeu à ajuda de uma faxineira, 2 x por semana. 


A elas agradeço a oportunidade de me passarem a liberdade de escolha e a chance de estar usufruindo do resultado da educação que delas recebi. Faço votos de que, onde estejam, possam receber meus sentimentos de gratidão!









4 comentários:

mfc disse...

Seremos sensivelmente da mesma idade... e como eu entendo tudo o que escreve e como o diz!
Essa sensibilidade só se obtem com os anos...
Essa alegria do retorno a casa que tanta paz nos dá, é um conforto que não tem nome!
Adorei o post por tudo quanto nele pôde ser dito.
Beijinhos,

Karen disse...

Minha avó tem 90 anos, costura para fora e joga videogame até hoje. Minha sogra tem 80 e vive fora como uma adolescente, fica até altas horas no clube de bridge e viaja quando há torneios. Ela até se matriculou em uma matéria de história na Usp. Às vezes me envergonho dessa minha falta de ânimo. rs

sonia disse...

Karen, cada um tem uma natureza. Admiro a disposição dessas senhoras, mas não gosto de costura (aliás, detesto!) e muito menos de jogo (com exceção de Rummy Q). História não me atrai, a não ser um bom documentário na TV. Memorizar datas e fatos passados me deixaria deprê :) Minha vida é bem o meu número. Faço exatamente o que gosto. Só que de vez em quando eu preciso interagir, conversar, sair para bater um papo num café. Acredito que isso não seria pedir muito!
Uma vez ouvi de minha mãe uma frase que ela leu em algum lugar: "ser feliz é deixar de comparar". Desde então sigo isso à risca!
Beijos animados pra vc!!!

sonia disse...

Manuel, saber que ao menos uma pessoa me entendeu já me deu ânimo suficiente para ir correndo fazer um pão de mandioquinha (que estava adiando...)
Gosto de seus retornos, escreva sempre que puder.
Bom final de domingo nessa terra querida!