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sábado, 23 de abril de 2011

ABDICAÇÃO - F. Pessoa





Estou com a energia baixa, desde cedo. Não dormi mais que 3 horas a noite passada e acordei achando que precisava caminhar um pouco, como faço diariamente. Sem sucesso, voltei para casa, com poucas forças. Decidi deitar-me e pegar o livro do Pessoa, uma edição de 1990, Obra em Prosa, que ganhei de uma amiga, juntamente com o outro volume (ambos encadernados), Obra Poética, de 1972. Verdadeiras preciosidades que eu cobiçava e não conseguia encontrar em canto algum. Eis que num determinado dia, há poucos meses, minha amiga chega com os dois volumes, dizendo que era um presente. Eu fiquei paralizada, nem conseguia sentir a emoção toda de uma vez. Agora ela vem se manifestando aos poucos, a cada vez que tomo um dos volumes e começo a ler.
Vou compartilhar uma poesia logo nas primeiras páginas de Obra em Prosa, com o nome no título do post, escrita por F.Pessoa num dia em que ameaçava tempestade, e por ter tido ele fobia das trovoadas, apressou o passo para chegar a casa e nesse meio tempo compôs o seguinte poema:

Abdicação

Toma-me, ó Noite Eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho ...Eu sou um Rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei,
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas dum tinir tão fútil -
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a Realeza, corpo e alma,
E regressei à Noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

sexta-feira, 22 de abril de 2011


Assim está a Praia Grande, hoje, no litoral sul de São Paulo. E o povo adora!!! Passa 4 horas na estrada numa viagem que duraria 1 hora normalmente, e nem acha ruim. Eu não consigo entender, sinceramente, mas respeito o gosto de cada um. Eles também detestariam minha escolha. Cada vez mais quero paz e pouco barulho!

PESSOA

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Esperando a química mudar...


Posso dizer por mim e mesmo assim é difícil explicar. Às vezes sinto que há algo meio pesado dentro da minha alma (ou cabeça) que me impede de fluir como gostaria. Não é propriamente uma tristeza, um abatimento, é mais uma interferência que não sei localizar. Algo sutil, não chega a tomar corpo. Apenas mexe na velocidade, na fluidez da energia. O que fazer nesse momento?


Tomar consciência disso e não fazer nada. Mas talvez um recado insidioso já comece a tomar rumo para modificar tudo. E sem motivo aparente ou qualquer coisa que chegue de fora para dentro, a química muda! Não aconteceu nada de palpável, mas a química mudou.

Fiquei aqui matutando: se metade dos suicidas apenas esperassem que a química mudasse, teriam desistido da idéia de acabar com a vida. Não é que ela se torne cor de rosa com bolinhas azuis. É que ela fica mais leve, de repente. E nessa leveza chega uma nova disposição de tocar o barco. Então coloquei aqui a foto de um barquinho, para ilustrar o recomeço.











estava devendo uma foto

Prometo que vou atualizar minha imagem. Esta é de 2008, a foto mais "recente" que tirei. Hoje estou 3 anos mais  enrugada ...

domingo, 3 de abril de 2011

AFINAL



Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente, Porque todas as coisas são,
em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.



Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas, Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso,
dispersadamente atento, Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.



Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.

Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é Espírito,

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!
Sursum corda!
Na noite acordo, o silêncio é grande,
As coisas, de braços cruzados sobre o peito,
reparam com uma tristeza nobre
para os meus olhos abertos que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.

Sursum corda!
Acordo na noite e sinto-me diverso.
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,
Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça. (...)

Álvaro de Campos